Minha
surpresa surgiu logo de início, quando me deparei com as cartas de Robert
Walton. Perguntei-me onde estava a narrativa que os filmes plantaram na minha
mente. Logo percebi que nenhum filme substituiria a experiência com a escrita
de Mary Shelley.
A
descrição do Dr. Frankenstein do processo formativo da sua criação me estimulou
intelectualmente. Fiquei animada ao ver nomes que já leio a algum tempo como
Agripa e Paracelso. A vivência acadêmica
descrita pelo doutor é bastante detalhada e relevante para o entendimento do
processo de criação do Ser.
E o
Ser? Sofri com ele quando foi rejeitado pelo seu criador, quando ele foi
perseguido pela população da vila, quando se decepcionou com a família que adotou
como protetores. Esse Ser sofreu rejeições desde sua criação até o fim de sua
vida. Ele me passa a sensação de carência.
Uma
das questões que a autora aborda é o estranhamento do ser humano com o
diferente. Questão essa que até hoje suscita conflitos entre classes, raças,
religiões. O ser humano não reage bem ao diferente. Infelizmente, isso ainda
não mudou. Vejo a obra de Mary Shelley como uma forma de repensar como eu reajo
também.
O
estranhamento advém do medo do ser humano ao desconhecido. Esse medo causa
intolerância, rejeição e preconceito. O Ser é visto como uma aberração, uma
anomalia. Ele é descrito dessa forma inclusive da resenha escrita pelo marido
da Mary. Não consigo vê-lo dessa forma.
A
descrição do Ser do processo de aquisição da linguagem seja inicialmente como
fala, depois como leitura, também me chamou bastante atenção. As obras
inclusive são enumeradas: Paraíso Perdido, Vidas, de Plutarco e Os sofrimentos
do jovem Werther. A relação entre as obras citadas e Frankenstein é bastante
interessante.
No
caso de Vidas, o Ser não era considerado um ser vivo, já que este foi construído
através de corpos mortos. Seria relevante fazer a leitura paralela das mesmas. Os
sofrimentos do jovem Werther também pode nos falar da relação que o Ser tinha
com a questão do amor. Mas é Paraíso Perdido que nos fala da relação do Ser com
seu criador. Este afirma identificar-se com Satã, já que o mesmo também foi
rejeitado pelo seu criador. Não vou comentar muito, pois não li tais obras.
Posteriormente, quero fazer as leituras para relacionar e convido vocês também
para discutir essas relações comigo.
A
edição que li foi a da editora Hedra. Amei a capa, feita com desenhos do
artista Ulysses Bôscolo. Seus desenhos deixam muito mais para que a gente
imagine do que mostra realmente a visão do ilustrador. Tons em vermelho e preto
nos mostram o horror que a obra procura retratar. Gostei muito da introdução e
dos apêndices também, com prefácios e uma resenha do marido de Mary. Gostei
bastante da edição, só não gostei mais por não ter capa dura.
Um
livro indispensável para a formação intelectual de qualquer um que queira
conhecer a literatura ocidental. E para qualquer um que saiba a importância de
uma boa formação literária. Mary Shelley é uma autora de apenas uma obra, mas
que nos tirou do conforto e nos fez pensar o que consideramos o horror.
15 comentários:
Ai amei a forma que você descreveu o livro.
O Ser mesmo tendo sido criado com parte mortas merecia o minimo de respeito, parece que o autora Mary Shelley, foi extremamente realista.
http://loucaescrivaninha.blogspot.com.br/
A questão do desconhecido é realmente complicada e sempre trabalhada. Apesar de existirem críticos e mais críticos sobre esse lado humano (acho que todo mundo critica isso algum dia na vida e de alguma forma), todo mundo tem um pouco desta característica. Todo mundo já torceu ou torcerá o nariz para algo diferente, por mais bobo que seja. Toda criança já recusou uma comida por ela parecer feia ou intragável. É do ser humano, e isso é ainda mais cruel de ser exposto.
Adorei sua resenha, fiquei com ainda mais vontade de ler o livro! Tenho Frankenstein na estante e o lerei antes do que estava imaginando.
Beijos
Mell Ferraz
http://www.literature-se.com/
Lé, fiquei muito feliz com seu comentário!!! Fiquei muito ansiosa por ver a recepção da minha mudança na forma de escrita. Muito obrigada!!!
Mell,
Fico muito feliz em saber que consegui te estimular a lê-lo. E que bom que vc gostou da mudança na escrita. Depois volta para me dizer o que vc achou, tá. Beijos!
Oi Lu! Eu li Frankenstein há muito tempo e foi muito impactante para mim, é realmente um livro inesquecível - sempre recomendo para meus alunos.
Adorei a resenha.
B-jussss! ♥
Oi Lu! Adorei sua resenha, a forma como expor a ideia do livro e os sentimentos do Ser. Não sei porque nunca pensei em ler essa obra. Acho que me passou em meio a tantos outras, mas já anotei na lista, há muitos na frente, mas espero poder ler em breve e checar a escrita de Shelley, não sabia que era sua unica obra.
Bjus bjus!
Pan
http://pansmind.blogspot.com/2013/11/sorteio-de-natal-amazonia-arquivo-das.html
Tenho vontade de ler esse livro por ter curiosidade sobre o seu protagonista, o Ser, mas fico com um pé atrás com medo de acabar me decepcionando...
Gostei da sua resenha :)
Bjs
sete-viidas.blogspot.com
Eu sou apaixonada por esse livro, tive que ler para Filosofia, e amei!
Mas a sua capa é infinitamente mais bonita que a minha, rs. Também acho que esse livro é indispensável!
Adorei o blog, estou seguindo!
depoisdeumlivro.blogspot.com
você pode dar uma passada ?
beeijos
Gostei muito da sua resenha que me deixou com uma vontade louca de ler este livro.
Beijos
estantejovem.blospot.com.br
Obrigada, Nina! Também foi muito impactante para mim! Beijos!
Pandora,
desculpe meu engano. Descobri que a autora tem vários livros. Mas apenas Frankenstein e outro vieram para o Brasil. Beijos!
Acho que você não vai se decepcionar... Depois volte para me contar como foi... Beijos!
Ju,
passei pelo seu blog e gostei muito. Estou pensando até em participar do desafio! Também amei essa capa, foi uma luta, porque só encontrava em livro de bolso (e eu não sou muito fã). Beijos!
Oi Paulo,
que bom que deixei vc com vontade de lê-lo. Ele é maravilhoso! Beijos!
Gostei de sua reflexão sobre Dr. Frankenstein de Mary Shelley. Acredito que seus apontamentos são muito importantes para ver o século XIX e a literatura gótica da época que critica seu própria realidade.
Beijo,
Jéssica, d´O Feminino dos Livros.
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