terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Frankenstein - Mary Shelley




Minha surpresa surgiu logo de início, quando me deparei com as cartas de Robert Walton. Perguntei-me onde estava a narrativa que os filmes plantaram na minha mente. Logo percebi que nenhum filme substituiria a experiência com a escrita de Mary Shelley.

A descrição do Dr. Frankenstein do processo formativo da sua criação me estimulou intelectualmente. Fiquei animada ao ver nomes que já leio a algum tempo como Agripa e Paracelso.  A vivência acadêmica descrita pelo doutor é bastante detalhada e relevante para o entendimento do processo de criação do Ser.

E o Ser? Sofri com ele quando foi rejeitado pelo seu criador, quando ele foi perseguido pela população da vila, quando se decepcionou com a família que adotou como protetores. Esse Ser sofreu rejeições desde sua criação até o fim de sua vida. Ele me passa a sensação de carência.

Uma das questões que a autora aborda é o estranhamento do ser humano com o diferente. Questão essa que até hoje suscita conflitos entre classes, raças, religiões. O ser humano não reage bem ao diferente. Infelizmente, isso ainda não mudou. Vejo a obra de Mary Shelley como uma forma de repensar como eu reajo também.

O estranhamento advém do medo do ser humano ao desconhecido. Esse medo causa intolerância, rejeição e preconceito. O Ser é visto como uma aberração, uma anomalia. Ele é descrito dessa forma inclusive da resenha escrita pelo marido da Mary. Não consigo vê-lo dessa forma.

A descrição do Ser do processo de aquisição da linguagem seja inicialmente como fala, depois como leitura, também me chamou bastante atenção. As obras inclusive são enumeradas: Paraíso Perdido, Vidas, de Plutarco e Os sofrimentos do jovem Werther. A relação entre as obras citadas e Frankenstein é bastante interessante.

No caso de Vidas, o Ser não era considerado um ser vivo, já que este foi construído através de corpos mortos. Seria relevante fazer a leitura paralela das mesmas. Os sofrimentos do jovem Werther também pode nos falar da relação que o Ser tinha com a questão do amor. Mas é Paraíso Perdido que nos fala da relação do Ser com seu criador. Este afirma identificar-se com Satã, já que o mesmo também foi rejeitado pelo seu criador. Não vou comentar muito, pois não li tais obras. Posteriormente, quero fazer as leituras para relacionar e convido vocês também para discutir essas relações comigo.

A edição que li foi a da editora Hedra. Amei a capa, feita com desenhos do artista Ulysses Bôscolo. Seus desenhos deixam muito mais para que a gente imagine do que mostra realmente a visão do ilustrador. Tons em vermelho e preto nos mostram o horror que a obra procura retratar. Gostei muito da introdução e dos apêndices também, com prefácios e uma resenha do marido de Mary. Gostei bastante da edição, só não gostei mais por não ter capa dura.


Um livro indispensável para a formação intelectual de qualquer um que queira conhecer a literatura ocidental. E para qualquer um que saiba a importância de uma boa formação literária. Mary Shelley é uma autora de apenas uma obra, mas que nos tirou do conforto e nos fez pensar o que consideramos o horror.

15 comentários:

Unknown disse...

Ai amei a forma que você descreveu o livro.
O Ser mesmo tendo sido criado com parte mortas merecia o minimo de respeito, parece que o autora Mary Shelley, foi extremamente realista.
http://loucaescrivaninha.blogspot.com.br/

Mellory Ferraz disse...

A questão do desconhecido é realmente complicada e sempre trabalhada. Apesar de existirem críticos e mais críticos sobre esse lado humano (acho que todo mundo critica isso algum dia na vida e de alguma forma), todo mundo tem um pouco desta característica. Todo mundo já torceu ou torcerá o nariz para algo diferente, por mais bobo que seja. Toda criança já recusou uma comida por ela parecer feia ou intragável. É do ser humano, e isso é ainda mais cruel de ser exposto.
Adorei sua resenha, fiquei com ainda mais vontade de ler o livro! Tenho Frankenstein na estante e o lerei antes do que estava imaginando.

Beijos
Mell Ferraz
http://www.literature-se.com/

Lua Anna Costa disse...

Lé, fiquei muito feliz com seu comentário!!! Fiquei muito ansiosa por ver a recepção da minha mudança na forma de escrita. Muito obrigada!!!

Lua Anna Costa disse...

Mell,
Fico muito feliz em saber que consegui te estimular a lê-lo. E que bom que vc gostou da mudança na escrita. Depois volta para me dizer o que vc achou, tá. Beijos!

Nina Tavares disse...

Oi Lu! Eu li Frankenstein há muito tempo e foi muito impactante para mim, é realmente um livro inesquecível - sempre recomendo para meus alunos.
Adorei a resenha.
B-jussss! ♥

Unknown disse...

Oi Lu! Adorei sua resenha, a forma como expor a ideia do livro e os sentimentos do Ser. Não sei porque nunca pensei em ler essa obra. Acho que me passou em meio a tantos outras, mas já anotei na lista, há muitos na frente, mas espero poder ler em breve e checar a escrita de Shelley, não sabia que era sua unica obra.
Bjus bjus!
Pan
http://pansmind.blogspot.com/2013/11/sorteio-de-natal-amazonia-arquivo-das.html

Anônimo disse...

Tenho vontade de ler esse livro por ter curiosidade sobre o seu protagonista, o Ser, mas fico com um pé atrás com medo de acabar me decepcionando...
Gostei da sua resenha :)
Bjs
sete-viidas.blogspot.com

Unknown disse...

Eu sou apaixonada por esse livro, tive que ler para Filosofia, e amei!
Mas a sua capa é infinitamente mais bonita que a minha, rs. Também acho que esse livro é indispensável!
Adorei o blog, estou seguindo!

depoisdeumlivro.blogspot.com
você pode dar uma passada ?
beeijos

Unknown disse...

Gostei muito da sua resenha que me deixou com uma vontade louca de ler este livro.
Beijos
estantejovem.blospot.com.br

Lua Anna Costa disse...

Obrigada, Nina! Também foi muito impactante para mim! Beijos!

Lua Anna Costa disse...

Pandora,
desculpe meu engano. Descobri que a autora tem vários livros. Mas apenas Frankenstein e outro vieram para o Brasil. Beijos!

Lua Anna Costa disse...

Acho que você não vai se decepcionar... Depois volte para me contar como foi... Beijos!

Lua Anna Costa disse...

Ju,
passei pelo seu blog e gostei muito. Estou pensando até em participar do desafio! Também amei essa capa, foi uma luta, porque só encontrava em livro de bolso (e eu não sou muito fã). Beijos!

Lua Anna Costa disse...

Oi Paulo,
que bom que deixei vc com vontade de lê-lo. Ele é maravilhoso! Beijos!

Anônimo disse...

Gostei de sua reflexão sobre Dr. Frankenstein de Mary Shelley. Acredito que seus apontamentos são muito importantes para ver o século XIX e a literatura gótica da época que critica seu própria realidade.
Beijo,
Jéssica, d´O Feminino dos Livros.

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