"Ó minha pobre musa, esta manhã, que tens?
Teus olhos fundos têm tantas visões noturnas,
E vejo cada vez refletir-se em tua tez
A loucura e a repulsa, frias, taciturnas.
O súcubo verdoengo e o róseo diabrente
Deitaram-te esse medo e esse amor taciturno?
O mau sonho, com pudor audaz e irreverente,
Afogou-te imergindo em estranho Minturno?
Quisera que exalando o odor da saúde
Teu seio ideias fortes guardasse amiúde
E o teu sangue cristão fluísse em vagas iguais,
Como os múltiplos sons das vozes ancestrais,
Em que alternam o pai das canções desde outrora,
Febo, e o grande Pã, o senhor da lavoura."
Fonte: BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução: Mario Laranjeira. São Paulo: Martin Claret, 2011.
1 comentários:
Amo Baudelaire!
Obrigada por compartilhar este poema dele!
Beijo,
Jéssica, d´O Feminino dos Livros.
Postar um comentário