Seda,
de Alessandro Baricco foi uma experiência eminentemente estética.
Cada espaço em branco em volta do texto queria dizer algo mais que
somente as palavras do autor. Cada linha lida nos mostrava um novo
aspecto ou confirmava aspectos já percebidos. Conhecer a obra foi
passear por entre as sedas…
Inicialmente,
Hervé Joncour nos
parece ser nosso guia pelas sedas…
Conhecemos sua vida e seu silêncio, descobrimos seu trabalho. Sua
inércia chega a nos agitar, sensação oposta a que o personagem
parece assumir diante da vida. E o silêncio durará?
Um
convite leva-nos junto a Hervé para o Japão. Lá conhecemos os mais
belos olhos de menina… Hervé se encanta… O olhar da jovem parece
hipnotizá-lo… Ele cumpre a missão. Mas esquecerá aqueles olhos?
Hervé volta para casa e não consegue esquecer aquele olhar, nem
nós…
"A menina ergueu ligeiramente a cabeça. Pela primeira vez afastou os olhos de Hervé Joncour e os pousou na xícara. Lentamente, girou-a até que seus lábios estivessem precisamente sobre o ponto em que ele bebera. Entreabrindo os olhos, tomou um gole de chá. Afastou a xícara dos lábios. Tornou a pô-la onde a recolhera. Sua mão desapareceu sob o vestido. Voltou a apoiar a cabeça no colo de Hara Kei. Os olhos abertos, fixos nos de Hervé Joncour." (p.33).
Enfim
vemos Hélène. Esposa do protagonista. A Seda mais suave exposta no
livro. Cada palavra sua apresenta-se ao leitor como um carinho. Sua
suavidade embala o marido e aquece-nos. O leitor desatento pensa ser
a menina japonesa a melhor seda, mas aos meus olhos Hélène é a seda
mais suave e também nossa guia pelas sedas…
"Hervé Joncour iniciou os preparativos, e no começo de outubro estava pronto para partir. Hélène, como todo ano, ajudou-o, sem nada perguntar, e escondendo sua inquietação. Só na última noite, depois de apagar a luz, encontrou força para lhe dizer:
— Prometa-me que voltará.
Com voz firme, sem doçura.
— Prometa-me que voltará. No escuro, Hervé Joncour respondeu:
— Prometo." (p. 80, 81).
"No primeiro domingo de abril — a tempo para a missa solene — alcançou as portas de Lavilledieu. Viu a mulher, Hélène, correr ao seu encontro, e sentiu o perfume de sua pele quando a abraçou, e o veludo de sua voz quando ela disse:
— Você voltou. Suavemente.
— Você voltou." (p. 51).
A
escrita de Alessandro também nos faz um leve toque... Ela é
poética, meiga e muito sensual. Cada palavra nos envolve como um
tecido de seda acaricia a pele nua... Seu toque é suave, nos mostra
carinho, mas há no fim um leve arrepio que nos deixa excitados de
uma maneira tão leve…
Dificilmente
conseguirei passar a sensação sentida na leitura do livro, por isso
escolhi a brevidade do escrito. Mas quem sabe essa mesma brevidade
não vos pareça também como um toque de seda…
p.s: A edição da Companhia das Letras é impecável. A tradução foi bastante fiel a escrita do autor. A capa é linda!
2 comentários:
Olá,
Não conhecia este livro e nem seu autor. Mas, parece ser um bom livro para se ler quando precisa relaxar. Seguindo!
Lucas - Carpe Liber
http://livrosecontos.blogspot.com.br/
Acho muito interessante ler sobre o Japão, mas nunca li literatura japonesa ou algo sobre o Japão, sem ser mangás. Vou procurar pelo livro, este livro parece delicado e bonito.
Beijo,
Jéssica, d´O Feminino dos Livros.
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