segunda-feira, 10 de março de 2014

Ai minha senhora, assim morro eu! - Cantiga de amor



A partir da minha nova paixão pelas cantigas de amor trovadorescas, resolvi compartilhar esses versos lindos escritos por Paai Soarez de Taveiroos, trovador da época medieval. 

O Trovadorismo foi o início da Literatura Portuguesa, onde nobres compunham as cantigas para serem acompanhadas por instrumentos musicais. O período foi iniciado em uma época onde as guerras já não aconteciam com tanta regularidade, assim os nobres precisavam se destacar de outra forma, no caso a cultura. A língua usada pelos trovadores foi o galego-português. Língua escolhida para uniformizar a literatura do período.

No caso dessa, é uma cantiga de amor, onde o eu lírico é masculino e onde comumente a senhora a que se destina a cantiga não ousa retribuir o amor do trovador. As regras de conduta são adeptas ao amor cortês. No caso especificamente da cantiga que compartilharei com vocês, o trovador usa de comparações para falar do sofrimento que sente. A senhora não retribui como deve ser e este está prestes a morrer de amor.


Como morreu quen nunca ben
ouve da ren que mais amou
e quen viu quanto receou
d'ela e foi morto por en,
  ai, mha senhor, assi moir'eu!

Como morreu quen foi amar
quen lhe nunca quis ben fazer
e de quen lhe fez Deus veer
de que foi morto con pesar,
  ai, mha senhor, assi moir'eu!

Com' ome que ensandeceu,
senhor, con gran pesar que viu,
e non foi ledo nen dormiu
depois, mhasenhor, e morreu,
 ai, mha senhor, assi moir'eu!

Como morreu quen amou tal
dona que lhe nunca fez ben,
e quen a viu levar a quen
a non valia, nen a vai,
 ai, mha senhor, assi moir'eu!


Como morreu quem nunca ouviu
de quem mais amou
e quem viu quanto receou
dela e foi morto por isso,
   ai minha senhora, assim morro eu!

Como morreu quem foi amar
quem nunca lhe quis bem
e de quem Deus fez ver
de que foi morto com pesar,
   ai minha senhora, assim morro eu!

Como homem que enlouqueceu,
senhora, com grande pesar que viu,
e não foi feliz e nem dormiu
depois, minha senhora, morreu,
   ai minha senhora, assim morro eu!

Como morreu quem amou tal
dona que lhe fez bem,
e quem a viu levar a alguém que
não valia, nem vale,
   ai minha senhora, assim morro eu!

*tradução minha.

Fonte: LAMAS, Estela Pinto Ribeiro. PEREIRA, Luís Ricardo. Poesia Tradicional Portuguesa: Trovadoresca, Palaciana e Camoniana. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.

0 comentários:

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.

© 2011 Viagens Esquizofrênicas a Lua, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena